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Crédito rural mais caro, menos subsídio e risco crescente

Embora o Governo Federal tenha anunciado um valor recorde de R$ 605,2 bilhões para o Plano Safra 2025/2026 — somando os R$ 89 bilhões da agricultura familiar e os R$ 516,2 bilhões destinados a médios e grandes produtores —, especialistas, entidades e lideranças do setor, além de economistas, demonstram preocupação com o rumo da política agrícola. A crítica central recai sobre a efetividade dos recursos, a queda do volume real e o avanço de mecanismos de financiamento com menor controle público.

Na prática, o crescimento de apenas 1,5% em relação à safra passada (R$ 594,5 bilhões) representa uma perda real, já que a inflação acumulada nos últimos 12 meses supera os 5%. “O anúncio pode até parecer positivo, mas o produtor sente a diferença no bolso. O aumento não cobre sequer a inflação. Isso é, de fato, um retrocesso disfarçado de avanço”, avaliou Isan Rezende, presidente do Instituto do Agronegócio.

Outro ponto levantado por especialistas é a crescente dependência de fontes privadas, como as Cédulas de Produto Rural (CPRs) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Estima-se que até R$ 212 bilhões dos recursos anunciados virão dessas fontes, que operam com juros livres e sem subvenção do Tesouro. Isso representa uma redução significativa no peso dos financiamentos com taxas controladas, como o custeio tradicional ou os programas Pronaf e Pronamp.

“O governo está terceirizando para o mercado a responsabilidade de financiar a produção de alimentos. Isso pode funcionar para grandes operações, mas deixa desassistidos justamente aqueles que mais dependem de apoio público, especialmente em regiões mais pobres ou com risco climático elevado”, afirma um analista do setor cooperativista.

Além disso, há receio de que a proposta de taxar os rendimentos das LCAs a partir de 2026, com uma alíquota de 5% de Imposto de Renda, torne esse tipo de investimento menos atrativo para o mercado financeiro — o que pode elevar ainda mais o custo do crédito rural no futuro.

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Outra crítica frequente, e agora reconhecida pelo próprio governo, é a falta de transparência na apresentação dos dados. A promessa para esta safra é que haja um detalhamento claro sobre a origem dos recursos: o que é verba pública, o que é exigência regulatória e o que são recursos livres dos bancos. A medida visa responder às críticas de que os planos anteriores inflaram os números totais sem traduzir isso em liberação efetiva no campo.

Esse descompasso já foi observado na última safra: enquanto foram anunciados R$ 76 bilhões via Pronaf, apenas R$ 56,8 bilhões haviam sido efetivamente liberados até maio deste ano — uma defasagem de quase 34%. A expectativa é que o novo ciclo repita o mesmo padrão, devido ao cenário fiscal apertado e ao aumento da taxa Selic, que encarece a equalização dos juros.

No fim das contas, o crédito rural com taxas controladas encolheu. Em 2024/2025, esse tipo de financiamento somava R$ 400,5 bilhões. Agora, a participação dessas linhas no total caiu, compensada pela expansão das CPRs e outras formas de financiamento privado, mais caras e menos acessíveis a pequenos e médios produtores.

CRESCENDO PRA TRÁS – Isan Rezende, presidente do Instituto do Agronegócio(IA) lembrou que o Plano Safra está se distanciando de seu papel estratégico. Ele deveria ser uma ferramenta de estímulo ao desenvolvimento sustentável e de combate às desigualdades, mas está se tornando uma conta de mercado, inflada e excludente”.

“O número é impressionante à primeira vista, mas quando tiramos a maquiagem, vemos que o Plano Safra está crescendo para trás. Aumentar R$ 10 bilhões em relação ao ano passado, com uma inflação de mais de 5%, significa perda real de poder de compra para o produtor. No campo, isso se traduz em menos insumos, menos tecnologia e mais dificuldade para manter a produtividade. É um recorde que não chega no trator, não chega na lavoura”, explicou o presidente do IA.

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“O que mais preocupa é o peso cada vez maior das CPRs e LCAs dentro do montante anunciado. Estamos trocando o crédito rural subsidiado por instrumentos do mercado financeiro, que são voláteis, têm juros mais altos e não chegam com a mesma capilaridade para quem mais precisa. É como construir uma ponte de palha para atravessar um rio: serve para poucos e desaba no primeiro temporal. O Plano Safra está virando uma peça de mercado, e não mais uma política pública de desenvolvimento”, comentou Isan.

“Quando o governo apresenta um número como esse, espera-se que ele seja todo convertido em dinheiro na mão do produtor. Mas a história recente mostra que isso não acontece. Metade dos recursos é prometida, mas não é executada. O agricultor se programa, planta, investe — e o crédito não vem. Essa frustração está virando regra. A agricultura brasileira precisa de previsibilidade, não de manchete. É preciso repensar esse modelo que incha os números, mas esvazia a realidade no campo”, completou Rezende.

Para os produtores que dependem de crédito acessível, a preocupação é legítima. Com juros em alta, menos subsídio público e maior pressão do mercado, o campo poderá enfrentar dificuldades crescentes — e os mais vulneráveis correm o risco de ficarem para trás.

Fonte: Pensar Agro

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Decreto regulamenta BR do Mar e abre exportações pelo Rio Paraguai

O governo publicou nesta quarta-feira (16/07) o Decreto 12.555/2025, que regulamenta o programa BR do Mar e moderniza leis anteriores para transformar a navegação fluvial e marítima em modal eficiente de escoamento. A medida representa um avanço significativo para o agronegócio, que ganha opção com menor custo logístico e menor impacto ambiental.

Com a nova regulamentação, rotas como o Rio Paraguai passam a conectar os portos de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho (MS) e projetos em Cáceres (MT) ao Atlântico Sul por meio de terminais no Paraguai (Villeta e Concepción), na Argentina (Rosário) e no Uruguai (Nueva Palmira). Essa articulação multimodal pode reduzir o custo do frete em até 60% e cortar até 80% das emissões de carbono, contribuindo para a agenda de sustentabilidade.

Em números recentes da Semadesc, os portos de Corumbá e Porto Murtinho movimentaram 4,5 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2025, superando o total de 2024. O desempenho reafirma o potencial da Hidrovia do Rio Paraguai para escoar soja, minério, carne e outros produtos agrícolas com eficiência.

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O decreto também autoriza o afretamento de embarcações estrangeiras por empresas brasileiras de navegação (EBNs), com incentivos que privilegiam navios sustentáveis. Essa flexibilização abre espaço para ampliar a frota nacional, estimular a indústria naval e inserir agentes de menor porte no setor.

Segundo a Infra SA, a cabotagem hoje representa apenas 11% do transporte de cargas por navio no país. A expectativa é elevar esse indicador para cerca de 15% em até dez anos com o BR do Mar. O impacto positivo pode chegar a uma economia anual de R$ 19 bilhões em frete, com até 40% de vantagem sobre o modal ferroviário e 60% sobre o rodoviário, além de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Para o agronegócio, essa mudança significa resgatar a ideia de utilizar os rios como verdadeiras “avenidas de exportação”. Produtores e exportadores da região Centro-Oeste poderão escoar parte da produção permitindo escoar matéria-prima e produtos com mais competitividade e previsibilidade, aliviando as rodovias já sobrecarregadas.

A proposta atende demandas de entidades do setor, que apontam que o transporte rodoviário encarece a produção e desfavorece a competitividade internacional. Com o novo marco, integra-se o Brasil em uma estratégia logística intermodal mais sustentável e eficaz — com impactos positivos no desenvolvimento regional, geração de empregos e preservação ambiental.

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Em sua página no Linkedin (leia aqui) o presidente do Instituto do Agronegócio comenta a importância desta regulamentação para a logística do agronegócio.

Fonte: Pensar Agro

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